quarta-feira, 11 de junho de 2008

8ª série - 1ª GUERRA MUNDIAL - parte 3

Notícias da Grande Guerra (1914-1919)
A vida nas Trincheiras
"De ratos e homens"
As trincheiras se tornaram ao longo dos anos da 1ª Guerra Mundial um dos palcos principais por onde passaram as tropas. Estacionados em virtude de um grande equilíbrio no confronto entre os países envolvidos no conflito, os exércitos se estabeleciam nas trincheiras por longos períodos. Conseqüentemente as trincheiras acabaram se tornando cenário de muitas histórias de sobrevivência e de morte. Entre as principais causas de morte se encontram a falta de higiene e o contato freqüente com ratos e insetos, além do frio e de todo o stress provocado pelo longo período em que ficavam parados nas trincheiras e pela possibilidade de serem alvejados por seus inimigos.
Muitos homens que morriam nas trincheiras eram enterrados onde caíam. Se a trincheira ficava muito cheia eram feitos novos buracos para que fossem colocados os corpos. Eventualmente, quando se iniciavam preparativos para a ampliação do espaço de circulação dos soldados nas trincheiras, era comum que alguns dos corpos fossem encontrados, em avançado estado de decomposição. Outro problema sério encontrado nas trincheiras eram os ratos, atraídos pelos cadáveres e pelos alimentos estocados nas guarnições. A quantidade de ratos aumentava enormemente (cada casal de ratos podia ter até 880 filhotes ao longo de um ano) e, conseqüentemente, as trincheiras acabavam contando com esse inconveniente. Alguns desses ratos cresciam muito, atingindo tamanhos consideráveis. Como haviam muitos feridos nas trincheiras, não era incomum que eles fossem atacados pelas ratazanas e, tivessem dificuldades para se proteger. Outra situação corriqueira nas trincheiras nessa estranha e desagradável relação entre homens e ratos ocorria quando os roedores se escondiam nos bolsos dos casacos dos soldados ou ainda nos sacos de dormir, causando enormes sustos, fora mordidas e infecções (o primeiro lugar que os ratos costumavam atacar eram os olhos, partindo posteriormente para o interior do corpo).
Esses ataques eram tão freqüentes que há vários depoimentos de soldados a respeito do "convívio" entre eles e os ratos, como os que seguem:
"Ratos. Havia aos milhões!! Alguns eram enormes, tão grandes quanto gatos. Vários de nossos homens acordavam e encontravam um rato se enfiando embaixo de cobertores empilhados logo ao seu lado!" (Depoimento do Major Walter Vignoles, Fuzileiros de Lancashire, Inglaterra).
"Eu não posso dormir em minha trincheira, ela está cheia de ratos. Pullman dormiu aqui uma manhã e acordou para encontrar um deles sentado em seu rosto. Eu não consigo encarar isso então eu durmo na trincheira do Newbery." (Carta do Capitão Lionel Crouch para sua esposa, sobre a vida nas trincheiras em 1917)
"Eu vi alguns ratos correndo debaixo dos casacos dos soldados, ratazanas, gordas por causa da carne humana. Meu coração ficou apertado assim que subimos para ver um dos corpos. Seu capacete caiu e rolou. O homem apresentava um rosto deprimente, com tiras de carne arrancadas; o crânio descoberto, os olhos devorados e da boca aberta apareceu um rato. " (Autor desconhecido)
"Os ratos apareciam aos milhares e viviam da riqueza da terra. Quando estávamos dormindo nas trincheiras aquelas coisas corriam sobre nós, circulavam, se reproduziam e procuravam restos de comida, com os filhotes gritando incessantemente. Não havia sistema apropriado para lidar com o lixo nas trincheiras. Milhões de latas ficavam a disposição dos ratos na França e na Bélgica em centenas de milhas de trincheiras. Durante alguns momentos da noite, podia-se escutar um tilintar contínuo das latas se movendo uma contra a outra. Os ratos as estavam vasculhando. O que acontecia com os ratos debaixo do tiroteio era um mistério, mas o seu poder de sobreviver se mantinha mesmo com as novas armas, inclusive com os gases venenosos." (Depoimento do soldado George Coppard, extraído do livro "With a Machine Gun to Cambrai").
"Se você deixasse sua comida de lado os ratos logo a atacariam. Os ratos não tinham medo. Às vezes nós atirávamos nos nojentos roedores. Mas você poderia ser punido por desperdício de munição se o sargento o pegasse." (Entrevista concedida em 1983 pelo militar Richard Beasley)


João Luís Almeida Machado
Mestre em Educação, Arte e História da Cultura

8ª série - 1ª GUERRA MUNDIAL - parte 2

site sobre a 1ª Guerra
http://http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=57